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Runna Bike

Runna Bike

Runna Bike

Essa semana nós conversamos com os representantes da Runna Bike aqui no Brasil. Um modelo, ainda pouco conhecido dos brasileiros, utilizados pelos pequeninos que estão iniciando na bicicleta. Em vez de rodinhas, o equilíbrio é obtido com as próprias perninhas sem os pedais. Simplicidade é o princípio.

GTH: Desde quando o Runna Bike está disponível no mercado brasileiro?
Fernanda Bittencourt: Desde dezembro 2010

GTH: Como você conheceu a empresa que produz?
FB: O criador da marca Runna é da Nova Zelândia e o contato foi feito lá mesmo, pois morei lá 7 anos e antes de retornar ao Brasil nos encontramos e definimos as estratégias para introduzir as bicicletas de equilíbrio “balance bikes” no mercado brasileiro.

GTH: Como é trabalhar com eles?
FB: Bom!

GTH: Existem outros modelos disponíveis no exterior?
FB: Sim – as bicicletas de equilíbrio foram reinventadas há mais de 10 anos na Alemanha…

GTH: Por que você escolheu o Runna Bike?
FB: Pelo fato de estar na Nova Zelândia, país onde morei por longos anos e que mudou muito a minha vida – positivamente, é claro!

GTH: Para quem é recomendado?
FB: Crianças de 2 a 5 anos

GTH: Qual o retorno dos clientes?
FB: Maravilhoso – quem tem, sabe!

GTH: E o público geral?
FB: Cria muito interesse para todas as idades, não tem uma pessoa que não olhe – chama muito a atenção por ser de madeira e não possuir pedal!

GTH: O modelo tem tido bastante procura?
FB: Sim!

GTH: O que mais você gostaria de falar sobre esse modelo de bicicleta?
FB: Na Alemanha e Nova Zelândia as bicicletas de equilíbrio são as primeiras bicicletas de toda a criança – gostaria muito que o mesmo acontecesse aqui! Toda a criança merece ser estimulada positivamente – e a RUNNA e um excelente exemplo disto – desenvolve equilíbrio, coordenação motora e auto confiança.

GTH: Bom, essa é a opinião da empresária. E como é a vida pessoal da Fernanda? Você tem filhos?
FB: Sim, tenho um filho, Felipe, 3 anos

GTH: Ele usa o RB?
FB: Ahammmmmmmmm!!

GTH: O que ele acha?
FB: Não sai de casa sem ela!

GTH: Com que idade ele começou a usar?
FB: Desde 1 ano e 7 meses.

GTH: Ele demonstra interesse pelas bicicletas normais?
FB: Está querendo muito andar numa, pois o equilíbrio ele já tem!

GTH: Voce acredita que houve alguma influência do RB?
FB: Com certeza.

GTH: Algum acidente?
FB: Sim, todos tranquilos.

GTH: Além do Felipe, existe um outro ciclista inveterado na casa da Fernanda, o André, seu marido. Vamos conversar um pouco com ele também. André, quantos quilômetros você pedala em média por semana?
André Ribeiro: No meu treino, eu faço em torno de 100 km.

GTH: Então você pedala por esporte? Onde você treina? Que tipo de prova você participa?
AR: Sim, triatlon. Eu costumo pedalar na estrada 277.

GTH: E as demais pessoas da sua casa, pedalam assim também?
AR: Os outros apenas por lazer

GTH: O que acha da infraestrutura cicloviária de Curitiba?
AR: Apesar de Curitiba ter várias ciclovias, por onde gostaríamos de andar (nosso bairro) elas não existem!

GTH: O que deveria mudar?
AR: Muita coisa…com certeza mais ciclovias e segurança no trânsito ajudariam bastante inicialmente…

GTH: O que pode ser feito para melhorar?
AR: Acho que a cultura da bike deve ser algo introduzido desde muito cedo…para crianças…nas escolas e em casa. Exemplo disto na Nova Zelândia a maioria das crianças vão à escola de bicicleta, usam o capacete incondicionalmente…Quanto mais pessoas aderirem a bicicleta como meio de transporte, mais fácil será pontuar o que precisa ser feito e enfim, fazer!


É isso, fica aqui um vídeo da Runna Bike e em breve um pouco mais sobre a opinião dos pimpolhos.

Ciclista da vez: Letícia

Hoje vamos apresentar uma pedalante que tem 28 anos, é estudante de mestrado e mora no Cristo Rei. Com a palavra, Letícia da Costa e Silva.


indo para Morretes

indo para Morretes

Estou em Curitiba há dois anos, antes de mudar para cá tinha um carro, mas vendi na mudança. Achei que a cidade desde o início me oferecia mobilidade que não tinha em Manaus, seja a pé ou de ônibus e com o tempo fui deixando de querer comprar outro carro. Mesmo andando a pé ou de ônibus observava que a cidade tinha um número considerável de ciclistas que utilizam a magrela como veículo diariamente, mas ainda não passava pela minha cabeça em ter uma.

 

Aí, há uns 10 meses atrás conheci o Iê, amigo querido, que havia se mudado para Curitiba há uns 2 anos também e tinha deixado de andar de bicicleta. Ele começou a se movimentar para comprar a magrela, e depois de uns 3 meses que o conhecia ele apareceu lá em casa com ela. Todo orgulhoso e falando de muitas das viagens que ele havia feito já na vida de bicicleta e me deixando a par das suas pedaladas pela cidade. Comecei a ficar com vontade de ter uma também, via o Iê indo para minha casa, indo trabalhar, passear, fazendo tudo com sua bicicleta, e notei que seria muito melhor me movimentar de bicicleta pela cidade do que a pé ou de ônibus. Faria exercício, economizaria tempo, dinheiro, apreciaria as paisagens e ainda teria maior autonomia na mobilidade.

Fui até o Velo Club do Alessandro há uns 5 meses atrás para montar a bike, indicado pelo Iê que nesse meio tempo já estava agilizando a abertura de sua empresa de Cicloturismo. E foi lá com o Alessandro que comecei a conhecer melhor essa opção de transporte e ficar mais encantada com a ideia. Copiei a mesma bike que o Salin fez para a namorada dele, já que no dia que fui encomendar a bike, ele estava lá e barganhava tudooo e passava segurança sobre o que estava negociando. A partir daí, voltei várias vezes no Alessandro, sempre recebendo dicas de manutenção da bike.

O que inicialmente era planejado para ser um veículo só na cidade (tenho para-lama na magrela), transcendeu….já peguei a BR para Morretes e quero fazer mais (me arrependi de ter colocado o para-lama por causa dessa viagem, vou tirar ele). Praticando comecei a perceber a importância da bicicleta como transporte na cidade, para o meio ambiente e para a nossa saúde mental, emocional, física, espiritual….. E agora sou defensora do uso de bicicleta como ‘transporte humano’ e uso a bicicleta de 6 a 7 dias por semana.

Em relação ao que a minha família acha… Bom, meus pais moram em Manaus, eles apoiam, mas ficam preocupados com a segurança, pois pedala a noite também. Sempre os acalmo, pois podemos escolher os lugares por onde pedalar na cidade e nunca tive maiores problemas com isso. Os amigos, alguns ficam entusiasmados e outros acham ser um hábito estranho. Infelizmente ainda há pouco esclarecimento e alguns preconceitos sobre o uso da bicicleta como transporte na cidade, mas vejo que com o tempo eles vão desaparecendo.

Tenho qualidade de vida. É como se fosse uma terapia, além de economizar tempo, dinheiro. Quando fico dois dias sem andar de bicicleta já sinto falta. Parece que há um outro tipo de interação com a cidade e o ambiente, que nem a pé ou de carro você consegue aproveitar. Só pedalando mesmo. Mas acho que a cidade deveria estimular mais o uso da bicicleta pelos cidadãos oferecendo uma melhor infra-estrutura e bicicletários para estacionar (falta na cidade). Inserindo faixas para ciclistas em pistas estratégicas. É ótimo termos uma ciclovia, mas acaba que o compartilhamento atrapalha, não por não querer dividir e sim porque a velocidade de uma bicicleta e dos pedestres são diferentes.

Taí mais um motivo para as faixas nas ruas, assim não dividiríamos as faixas de automóveis com eles. O curioso é que o plano de mobilidade urbana da cidade prioriza em primeiro lugar os pedestres e ciclistas, mas não é bem isso o que vemos acontecer em sua infra-estrutura e leis. Um exemplo é o projeto de lei para os shoppings terem um bicicletário e o veto do antigo prefeito. Apesar de Curitiba oferecer melhor infra-estrutura que as outras cidades do país, para realmente priorizar os pedestres e ciclistas, a cidade precisa ainda adequar muito sua infra-estrutura viária.

Eu percebo que quanto mais ando de bike, mais jeitosa fico pedalando. Então tô praticando para melhorar cada vez mais minha pedalada, mas não obrigatoriamente, mas porque eu gosto. Talvez também se nós bicicleteiros tivéssemos mais adeptos teríamos uma infra-estrura melhor de se pedalar.

Cicloviagem? Yep, para Morretes! Bueno, tentei ir com uma amiga, mas não conseguimos finalizar. Fizemos 47 km. Pegamos a BR para SP e entramos pela estrada da Graciosa, paramos no Mirante. Afff….foi uma aventura e delícia, primeira experiência e fomos sem preparo algum, nem mapa. Então erramos caminho, nos deram direção errada, outras vezes entendemos errado. Fomos num bicicleteiro na Vila Zumbi (bairro bem amigável, por sinal e por contradição) e apreciamos lindas paisagens. A Serra do Mar é linda mesma. E que bom que tenho uma bicicleta que me permite apreciar e me envolver com estes ambientes interagindo, “experenciando”….muito diferente do que estar num carro.

Voto Livre – Lei da Bicicleta

Essa semana eu bati um papo com o Marcos Juliano Ofenbock, um dos autores do votolivre.org. Segue abaixo o resumo da nossa conversa.

Quantos votos já foram registrados no site?
Já tem mais de 1.000, até me mandaram email avisando que tinha chegado nos 1.000. Vamos ver agora quanto tem?(tirando celular do bolso) Esse negócio é meio viciante, agora tô sempre no F5 pra ver quantos já votaram. Olhaí: 1038 (mostrando a tela do celular).

O número está de acordo com as suas expectativas?
Tinha gente que tava otimista e achava que em poucas semanas a gente ia conseguir juntar as 65.000 “assinaturas”. Eu acho que estamos indo bem, 1.000 já é gente pra caramba. Um vereador se elege muito bem com 5.000 votos. A internet é imprevisível quando isso estourar deve crescer bem mais rápido. Muitas pessoas têm nos procurado, acho que poderemos formar várias parcerias. Isso é muito importante já que estamos fazendo isso tudo sem receber nenhum recurso. Já tem uma agência de publicidade que quer conversar conosco, tem também a RPC e a OAB que mostraram interesse. A gente tá tomando cuidado porque também tem os caras que querem aproveitar para se promover. Deixar um logotipo ou alguma outra propaganda no nosso site. Aí fica complicado, a gente não quer capitalizar em cima disso e não dá pra ficar vinculando o projeto a uma empresa ou outra.

E em relação a validade dessas “assinaturas”, elas não precisam ser certificadas digitalmente?
Essa é praticamente a única crítica do projeto, não ter certificado digital. Mas hoje em dia, esses dados pessoais têm valor de contrato, já é assim quando se faz compras pela internet. É por isso que a gente pede o título de eleitor também. A gente vai mandar uma cópia para o TRE de Curitiba que pode comprovar a veracidade desses dados. É um pouco diferente de quando você passa uma lista com o CPF de muita gente que serve mais como uma pressão política. No nosso caso é um projeto de iniciativa popular, é uma lei proposta pelos próprios cidadãos.

E o projeto pode ser vetado mesmo depois de reunir as assinaturas?
Até pode, mas rejeitar uma proposta votada por mais de 65.000 eleitores é suicídio político. A primeira lei da iniciativa popular foi da CNBB contra a compra de votos. Depois de juntar mais de 1.300.000 no Brasil ela foi apresentada ao legislativo e em 41 dias o Fernando Henrique já tinha sancionado.

O votolivre.org é uma ação da ONG APELA? Qual seu envolvimento com a ONG?
Sim, foi na APELA que surgiu esse projeto. Eu faço parte da ONG desde que ela foi criada em 2006.

Como surgiu o projeto?
Olha foram 9 meses de reuniões toda semana. O Henrique (Ressel) ajudou bastante nas questões legais. Eu já conheço ele há muito tempo e a gente sempre conversava sobre esse tipo coisa. Ficávamos pensando o que podia ser feito. Pra gente é como um resgate da Ágora que tinha na Grécia antiga onde os cidadãos participavam diretamente das decisões políticas.

Por que a primeira iniciativa foi a Lei da Bicicleta?
Essa foi uma escolha estratégica. Não queríamos que se formasse um bloco contra a primeira iniciativa do site. Por isso escolhemos a bicicleta, ela encontra ressonância no coração de todo mundo. Acho que 99,9% das pessoas com quem conversei foram favoráveis a ideia.

E como foi definida o texto da proposta?
Ela foi em grande parte baseada naquele livro do Ministério das Cidades (Caderno de Referência para Elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades). Aquele livro tem um monte de coisa! Traz tudo mastigadinho, é só implantar. A gente buscou também exemplos em outras cidades como em Floripa que já tá fazendo algumas ciclofaixas interessantes. Eu visitei também o Rio de Janeiro pra conhecer o SAMBA que já tem também em outras cidades como Blumenau.

Vocês têm alguma pretensão política com isso tudo?
Pelo contrário, a gente quer mostrar que a própria população pode legislar. Isso vai ser uma revolução. É um presente que a gente quer deixar pro Brasil. O site foi feito em código livre, quem quiser usar tá liberado. A gente tá fazendo isso em Curitiba mas a gente recebe email do Brasil todo. Estão de olho no que tá acontecendo aqui. Em alguns anos, essa pode ser uma ferramenta bem mais utilizada e que pode tornar o nosso país um lugar melhor. Eu trabalhei como pedreiro, como lavador de prato na Austrália mas eu tinha dignidade. Eu conseguia ter um cantinho pra mim e fazer minhas coisas. Na Europa eu também sentia isso. Quando voltei para o Brasil eu sabia que tinha que fazer alguma coisa. Mas as mudanças são lentas. Veja a Lei das Responsabilidades Fiscais. Antes, em cada mandato o sujeito gastava tudo que podia e não podia. Entregava o cargo e deixava tudo no vermelho. Agora só pode gastar o que arrecadar. Foi um grande avanço. Com a Lei da Iniciativa Popular a gente pode provocar uma mudança grande também.

Mas essa ferramenta pode ser usada para propor leis ‘más’ também não pode?
Eu sinceramente não acredito que isso possa acontecer. Se a bicicleta, que é inócua, dá o maior trabalho para juntar assinaturas… As leis más teriam naturalmente uma oposição popular muito grande.

Agora falando um pouco mais do Marcos Juliano.  Você já criou um esporte e descobriu uns túneis em Curitiba? Explica melhor essa história.
É, na verdade eu sou empresário. O meu negócio é o footsack. Ele foi reconhecido como esporte em 2008. Foi o sexto esporte criado no Brasil. Hoje já existem algumas Federações Estaduais.  É impressionante o que essa turma nova consegue fazer com essa bolinha. Aqui em Curitiba a gente está montando algumas quadras em logradouro público, vai ser ali no Barigui, isso é um grande avanço para popularizar o esporte.

Eu gosto muito de arqueologia também, quero até fazer uma pós(-graduação) para poder assumir como líder de expedição. Tem uns  túneis ali no Bosque Gutierrez, onde ficavam os jesuítas e também um lazareto, pode ter muita coisas escondida ali. Já pensou o impacto em alguém com 15 anos ao saber que ali pertinho da casa que ele mora podem ter tantos mistérios, quem sabe um tesouro.

Essa é uma pergunta que eu tenho que fazer. Você usa bicicleta na cidade?
Só nos fins de semana. Pra passear mesmo.

Por que você não usa? Quais são as dificuldades?
Olha eu queria usar mais mesmo. Acho que a bicicleta é perfeita na cidade. Mas não tem estrutura. As ciclovias que tão aí só ligam os parques. Se tivesse ciclofaixa e bicicletário ficava bem mais fácil. Tem dois funcionários aqui da empresa que vêm de bike, dou o maior apoio. Pra não dizer que eu ando só de carro, às vezes tenho que ir no centro buscar algo rapidinho na gráfica e já fui de bicicleta. Eu vou mais rápido do que de carro. Mas não tem onde deixar a bicicleta e eu acho perigoso andar na rua.

O que você acha que poderia ser feito?
Tinha que colocar ciclofaixa pela cidade conectando o centro. Tem que usar as canaletas do biarticulado para fazer vias para bicicletas. O pessoal técnico já tem muita informação a esse respeito, falta vontade política. Veja só aquela galera do Coletivo Interlux que foi lá e fez aquela ciclofaixa. Já tava mais que na hora de começar a implantar mais estrutura para bicicleta na cidade toda.

Marcos Juliano e Luis Claudio

Marcos Juliano e Luis Claudio

Uma curiosidade durante a entrevista. Nós acabamos descobrindo que o Marcos Ofenbock é apenas 2 semanas mais velho que eu e o advogado Henrique Ressel também nasceu no mesmo ano. E segundo um mestre indiano lhe disse, a turma que nasceu em 1977 são ARHAT (anunciadores do trovão). Resta saber se isso é uma boa coisa…

<Incluído no dia 12 de agosto às 10h46>
Neste domingo, dia 15 de agosto, vai haver o evento “Yoga pela Paz” no Parque Barigui e o pessoal do votolivre.org vai estar por lá com terminais disponíveis para quem quiser votar na hora.

Estou grávida e continuo pedalando – parte II

Na semana passada a gente publicou a primeira parte do relato da Vanessa. Aqui vai a segunda parte.


Vanessa na bici

Vanessa na bici

Em relação às mudanças do meu estilo de pedalada, eu diminuí a velocidade, cuidando muito mais com o trânsito. Alguns trajetos onde o trafego é maior, opto em andar pela calçada. A frequência e as distâncias também diminuíram, até porque fico cansada mais facilmente. Desde a semana 36, quando parei de trabalhar, parei de usar a bicicleta para esse fim. Atualmente pedalo pra ir ao supermercado, à piscina, estação de trem e passeios nas redondezas onde moramos. Quando há alguma rua com aclive e sinto que estou começando a cansar, opto em empurrar a bike morro acima até chegar de novo a uma rua plana. Quanto à postura, percebi nessas últimas semanas que tenho que ficar mais “reta” na bicicleta, mas nada muito diferente.

Não fiz nenhuma adaptação. Como minha bicicleta é um modelo feminino, ela é fácil de montar, com o quadro em “V” e com o guidão mais alto que as mountain bikes normais. Mas meu comportamento no trânsito mudou. Vou mais devagar e pedalo na calçada quando possível e quando o trafego é maior. Aqui temos o costume de usar um colete refletor e capacete quando andamos de bicicleta, principalmente nos meses mais escuros. Além disso as bicicletas são equipadas com luzes na frente e atrás.

Acredito que o uso de equipamentos adequados para ciclistas é muito importante, principalmente na gravidez. Como o uso do capacete em caso de acidentes, o uso do colete refletor para que os motoristas vejam o ciclista e o uso de luzes na bicicleta. Para as grávidas o importante é não tentar nada muito novo… Pedalar desde o começo da gravidez fez com que me acostumasse com a barriga crescendo e a “perda” do centro do corpo. Acho que não é porque eu pedalei durante a gravidez que todas deveriam fazer o mesmo. A mulher grávida deve pedalar desde que ela se sinta segura e confortável. No meu caso foi uma excelente forma de me manter ativa. Infelizmente pedalar na gravidez ainda é caracterizado por muitos medos e tabus.

Às vezes fico imaginando o que eu teria feito se tivesse passado minha gravidez em Curitiba. Acho que é diferente. A Inglaterra é reconhecida como um dos piores países da Europa para ciclistas, você sabe, poucas ciclofaixas, poucos lugares para estacionar, etc.. Por outro lado percebi que os motoristas têm muito mais respeito pelo ciclista do que no Brasil. Isso dá mais confiança quando você compartilha o transito com os carros.

No Brasil, em Curitiba, o trânsito é mais violento, logo acho que eu não me sentiria segura andando em ruas movimentadas. Espero que isso mude! Sobre pedalar na gravidez no Brasil? Acho que tudo depende das circunstâncias que você está. Existem bairros e cidades no Brasil que são tão seguras quanto na Europa, apesar da gente achar que não. Além disso, dá pra pedalar por ruas alternativas. Eu e meu marido estamos voltando pro Brasil em alguns meses, e caso eu fique grávida de novo, penso seriamente em fazer o mesmo que fiz aqui.


Obrigado por compartilhar sua história conosco Vanessa. E que o herdeiro venha cheio de saúde para encarar muitas pedaladas em família.

Estou grávida e continuo pedalando – parte I

Este é um relato da nossa amiga Vanessa que está no finalzinho da sua primeira gestação e não pára de pedalar !!


Vanessa na bici

Vanessa na bici

Comecei a pedalar quando ganhei minha primeira bicicleta aos 6 anos de idade. Desde então sempre tive bicicleta. Em 2002, quando já estava morando em Curitiba e casada, eu e meu marido fizemos uma viagem de bike até Florianópolis. Acho que foi a partir dessa viagem que nos apaixonamos mesmo por bicicleta e decidimos que sempre as teríamos como uma opção de meio de transporte. E foi isso o que aconteceu, pois na época não tínhamos carro. Quando viemos pra Inglaterra morar, em 2006, conseguimos comprar nossas bikes só em 2008. Desde então as usamos quase todos os dias; vamos ao mercado, ao trabalho e fazemos passeios pela cidade e região. No último ano tenho pedalado quase todos os dias por no mínimo 30 minutos.
 
Quando descobri que estava grávida um dos primeiros pensamentos que me veio a mente foi… “Será que vou ter que abandonar minha bike??” Conversei com alguns amigos e eles diziam que era perigoso e isso me deixou receosa. Mas como para chegar ao meu trabalho demorava em média 15 minutos pedalando, arrisquei ir mais devagar aos primeiros 3 meses, sempre cuidando com buracos e com o transito. Depois que passei pelos meses mais frágeis da gravidez pedalando com muito cuidado, percebi que não era impossível. Foi aí então que decidi continuar enquanto me sentisse segura e confortável. Parei de pedalar entre novembro e dezembro, quando o inverno chegou. Final de janeiro, quando estava com 23 semanas de gravidez comecei de novo e desde então ainda não parei. Hoje estou com 37 semanas de gestação e continuo pedalando!
 
O meu marido não vê problema nenhum sobre pedalar durante a gravidez, mas é claro, que o cuidado tem que ser redobrado. Ele sempre deu muito apoio pra eu continuar fazendo os mesmos exercícios e consequentemente, pedalar. Acho sim que isso influenciou a minha decisão em continuar pedalando até agora. Como temos o trajeto parecido pra ir ao trabalho, ele me acompanhou durante quase todos os dias nas últimas semanas, o que também me deu mais confiança em saber que tinha alguém comigo se algo acontecesse. Como o hospital fica a só 15 minutos de pedalada, ele até acha que poderíamos ir ao hospital de bicicleta pra ter o bebê…Brincadeira!
 
Quando perguntei à minha parteira sobre pedalar durante a gravidez, ela falou que poderia continuar pedalando até quando me sentisse confortável e segura na bicicleta. Ela disse:

Pode ir até o final!

Confesso que vibrei quando ela falou isso. Pensei: “Puxa, acho que não sou tão louca então!”. Ela mencionou também que quanto mais ativa eu fosse melhor para mim e para o bebê, e assim, para o parto. Mas é claro que teria que ter o bom senso de não fazer passeios longos e evitar ruas com muito aclive. Ouvir isso da parteira foi muito importante.
 
Quanto à opinião dos amigos e parentes, ela é diversificada. Alguns falam que eu não deveria continuar (na verdade agora é um pouco tarde pra falar isso), outros falam que admiram e que acham legal não parar de pedalar. Ultimamente percebi que algumas pessoas que acham que é loucura eu continuar pedalando normalmente são aquelas que não sabem andar de bicicleta ou têm pouca prática. Por isso acho que o “medo” delas por mim seja maior. Acho que meus pais têm algum receio, mas nunca falaram para eu parar. Meus sogros acham legal que ainda não parei de pedalar, mas sempre falam pra eu tomar mais cuidado.
 
Na semana que vem tem a parte final do relato…

Manutenção ou preservação cultural

Entre os dias 27 de dezembro e 10 de janeiro, Marco Antônio Konopacki, o Amarelo e Érico Massoli Ticianel Pereira, membros do coletivo Soylocoporti, viajaram de bicicleta desde Curitiba/PR até Paraty/RJ.

Foram nove dias na estrada e 800km percorridos com o objetivo de conhecer e dialogar com ativistas culturais ligados a cultura caiçara desta região. Um dos entrevistados foi Luís Perequê, músico e produtor cultural que é uma das referências da cultura caiçara brasileira. Ativista cultural, orgulhoso de suas raízes, Luís Perequê fundou o Silo Cultural José Kleber e a Vila Caiçara em Paraty, espaços que se propõem a revelar talentos locais e a divulgar a cultura caiçara.

Também criou com Antônio Carlos Diegues, Vanda Mota, Anna Cecília Cortines e Olívia Gotteheiner a Rede Caiçara de Cultura, rede de articulação que busca fortalecer e criar espaços para o fortalecimento da identidade caiçara na região que vai do litoral do Paraná ao litoral sul do Rio de Janeiro.

Ouça a entrevista com Luís Perequê no blog, o Homem Amarelo.

Valdo, continue pedalando em paz

Há poucos dias atrás faleceu na sua barraca, desacansando das pedaladas, o Valdo da Bike. Pra quem não conhece, a gente já tinha falado um pouco dele aqui no blog.

Valdo foi um exemplo do que somos capazes de fazer com poucos recursos e muita força de vontade.

Nestes endereços você pode encontrar mais informações e homenagens:

Valdo da bike faleceu no México – OndePedalar

Em plena paz, Seu Valdo desencarna fazendo o que mais gostava – Caminhos do sertão

Em processo de desintoxicação – parte IV

Texto publicado originalmente no blog DoRabuja por Nicholas Arand.

Veja também a Parte III.


Modelo de vidaMudanças culturais positivas ocorrem de cima para baixo. É como educação ou altruísmo, precisam ser ensinados e cobrados por alguém, difícilmente vão surgir espontaneamente em nossa espécie.

 

No nosso modelo de democracia, no qual o povo, que não sebe o que está fazendo, elege políticos por interesse próprio, e estes atuam em interesse próprio, ou no máximo representando o interesse próprio de seus eleitores ou patrocinadores (qual a diferença?), inclusive garantindo que o povo continue sem saber o que está fazendo, dificilmente surgirão forças políticas benevolentes capazes ou motivadas a lutar contra o sistema, impondo transformações sociais positivas realmente relevantes. Para começar é este ciclo que precisaria mudar, e essa é apenas a parte mais difícil, não a única.

Iniciada a vontade e poder de de mudança ainda tem o vício econômico que precisaria ser resolvido, aí talvez o mundo sinta a maior síndrome de abstinência de todas. Temos toda a indústria automotiva, que invariavelmente seria bastante freiada por isso, com ela as auto peças paralelas, a indústria de combustíveis, postos de distribuição, oficinas mecânicas e auto-centers.

Faça um teste na avenida comercial mais próxima a sua casa: quantas lojas de carro tem? quantos postos de gasolina? quantos auto-centers? quantas lojas de som ou “tunning” automotivos? Compare com a quantidade de verdureiros, teatros, livrarias (pode somar esses últimos se quiser)?

No meu bairro é mais fácil instalar insufilme ou abastecer o tanque do que comprar um quilo de abobrinhas.

Mas isso também só depende de vontade pública. Todo este comércio surgiu para abastecer o mercado. Se o mercado mudasse, a oferta mudaria com ele, e poderíamos ter em todos o bairros, pequenos distribuidores de alimentos orgânicos, frescos e de qualidade, mais livrarias, teatros, e onde temos hoje nosso singular Mercado Municipal ou nosso único Ceasa, poderíamos ter um singular posto de gasolina e um auto-center. Exagero?

A “lista online” aponta, em Curitiba, 442 endereços para “carros usados”, 248 relacionados à palavra “gasolina” e 173 para “Auto-Center”, contra apenas 33 para “Legumes”, 81 para “livraria” e 13 para “teatro”. “Bicicleta” retorna 35 endereços. Acredito que a experiência em que estou metido (tentando largar o vício) pode servir de exemplo.

Antes de começar a andar de bicicleta, tive que perceber que minha conexão psicológica e física com o carro era um problema.

O investimento, uma boa Caloi 10, veio depois e só a partir daí começou a haver mudança. Da mesma forma, antes de construir quilômetros de ciclofaixas ou comprar centenas de ônibus, é preciso conscientizar as pessoas de que o excessivo uso do automóvel é um problema, se não as ciclofaixas vão acabar vazias e abandonadas, ou virarão (como acontece) pista de cooper, estacionamento, ou “moto-faixas”, e os ônibus ficarão muito caros para os poucos passageiro que não tem dinheiro para comprar um carro.

Hoje vemos em comerciais imagens de automóveis reluzentes viajando em alta velocidade por avenidas livres, belas estradas e paisagens estonteantes, e enquanto os consumidores sonham com o automóvel reluzente, não percebem que o que eles realmente precisam são as avenidas vazias, belas estradas e paisagens estonteantes!

Os valores estão invertidos, e antes de qualquer coisa precisam ser realinhados.

Em processo de desintoxicação – parte III

Texto publicado originalmente no blog DoRabuja por Nicholas Arand.

Veja também a Parte II.


Principal causa de morte no mundoEstatísticas nem sempre são confiáveis, dependem muito de quem paga por elas, mas são um bom indicador. Segundo elas, este problema já mata mais que o cigarro, direta, ou, digamos, “passivamente”. Foram mais de 254 mil pessoas mortas em acidentes nos último 8 anos, uma média de quase 32 mil por ano. Algumas pesquisas indicam que cerca de 11 mil pessoas morrem por ano em decorrência da poluição causada pelos automóveis, isso só nas 6 principais capitais do país, onde o problema já passou de crônico.

 

Somando estas duas frentes, a ativa e a passiva, temos 65 pessoas morrendo por hora, de acordo com estudos, seis vezes mais que o tabagismo, que mata cerca de 10 pessoas por hora no Brasil, isso porque não estou contando os ainda controversos e incompreendidos efeitos colaterais da depredação do planeta para a extração de matéria-prima e energia para a manufatura e descarte de toda a tropa mundial.

Não quero começar uma discussão sobre qual droga é mais pesada pois não é esse o ponto, quero apenas encontrar comparativos para o problema e demonstrar não somente que o automóvel é realmente um vício, mas que nas proporções atuais de uso e consumo, é um vício que mata. E mata muita gente.

Quando resolvi que lentamente tentaria trocar o carro pela bicicleta, percebi que além de todos os sintomas comentados anteriormente – que meu corpo dependia cronicamente do automóvel, que meu modo de vida dependia do automóvel – percebi também que socialmente, de uma forma muito mais ampla, esta droga vicia de forma sistêmica.

Possuir um carro passou a ser a ambição das pessoas, desde criança.

Não usa-lo uma vez que o possui, passou a ser considerado insanidade. “Por quê você vem de bicicleta?”, me perguntam no trabalho. Costumo responder que é “porque preciso trabalhar para viver”. Existe uma pressão social para o uso do carro.

Mundo dos carrosA cidade, não somente seus cidadãos, está viciada em carros. Calcula-se que 70% do espaço urbano público está destinado aos automóveis, veículos estes que transportam apenas 17% da população. Quanto mais carros mais trânsito, quanto mais trânsito mais avenidas, quanto mais avenidas, mais carros, e assim sustentamos um dos ciclos viciosos mais rentáveis da história (depois das guerras), enquanto a grande maioria dos cidadãos são cada vez mais espremidos no pouco que lhes sobra, em calçadas e ciclovias estreitas e esburacadas, em ônibus e terminais super lotados.

O sistema econômico, não apenas a cidade, está viciado em carros. Frente a crises, países lançam incentivos acima de 2 mil dólares por cidadão (abastado) para fomentar a compra de mais carros, girar a economia e gerar empregos, pior, com a desculpa de que assim estaríamos ajudando o meio ambiente.

Outros cortam impostos, lançam financiamentos, para garantir que o sistema de enriquecimento que sustenta os bolsos mais abastados do país não entre em falência. Esta indústria, se somada à da dos combustíveis que alimenta a tropa, já parece ser uma das principais de nosso país. O governo, não só o sistema econômico, está viciado em carros, e é incapaz de vez uma saída diferente.

Tem como sairmos dessa? Neste país, minha esperança é pouca mas ainda não acabou (se não não estaria rabujando aqui). Mas por que tanto negativismo? Porque essa mudança exigiria algumas bases que não temos hoje, e talvez sejam necessárias algumas gerações de população e consequentemente de políticos para passarmos a tê-las. Estamos falando de um pouco mais do que investimento em transporte público e ciclofaixas, mas também de consciência coletiva, mudança de valores e vontade pública e política.

Continua na próxima semana…

Em processo de desintoxicação – parte II

Texto publicado originalmente no blog DoRabuja por Nicholas Arand.

Veja também a Parte I.


Hoje, apesar de melhor, ainda sou bastante dependente. Minha contagem mostra progresso: primeira semana fiquei dois dias limpo, na segunda o tempo frio e chuvoso de Curitiba me desanimou e tive uma pequena recaída, só consegui a façanha uma vez. Terceira semana consegui três dias, e na quarta, o mesmo número mas com dois dias seguidos, sinal claro que a dependência física pode ser vencida com um pouco de persistência.

 

Hoje estou estacionado nos três dias limpos por semana, mas convicto de que em pouco tempo conseguirei romper a barreira impostas pelas sequelas da dependência prologada, pulando para os cinco dias da semana, faça chuva ou faça sol.

Acho que posso dizer que sou dependente a cerca de 12 anos, começou a ficar sério alguns meses depois de minha primeira carteira, quando comprei meu próprio carro e pela primeira vez me senti realmente livre.

Livre para ir e vir, levar a namorada para sair, ir a bares, voltar altas horas totalmente embriagado, de felicidade, realização e álcool. Indo um pouco mais fundo, lembrando de minha infância e presenciando agora o desenvolvimento de meu próprio filho, começo a realizar que as raízes de minha dependência estão muito além de minha primeira carteira.

viciado do começo ao fimAs brincadeiras de criança, filmes de televisão, comerciais, as próprias atitudes de meus parentes mais próximos e de toda a sociedade a minha volta, tudo exerceu influência nas minhas decisões, e tudo fez com que o problema não fosse percebido facilmente por mim.

Conheço muita gente que sofre do mesmo vício mas não o percebe como tal, pior, negam, e mesmo depois deste meu depoimento, certamente continuarão negando. Como eu, estas pessoas abusam da substância, do planeta, e sempre que o fazem se sentem melhores, mais capazes, algumas se sentem até indestrutíveis.Colocam seu corpo em situações de risco, forças físicas para as quais nós seres humanos não fomos adaptados a suportar.

A sensação de poder, superioridade, proteção e realização que o uso da droga proporciona é dificilmente igualável.

Entorpecidos e dependentes, vejo parentes e amigos se comportarem de forma selvagem, totalmente diferente da postura amigável das situações corriqueiras. Xingamentos, individualismo, egoísmo, classicismo, falta de respeito com o próximo, não são comportamentos incomuns nos usuários de hidrocarbonetos.

Continua na próxima semana…