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Estou grávida e continuo pedalando – parte II

Na semana passada a gente publicou a primeira parte do relato da Vanessa. Aqui vai a segunda parte.


Vanessa na bici

Vanessa na bici

Em relação às mudanças do meu estilo de pedalada, eu diminuí a velocidade, cuidando muito mais com o trânsito. Alguns trajetos onde o trafego é maior, opto em andar pela calçada. A frequência e as distâncias também diminuíram, até porque fico cansada mais facilmente. Desde a semana 36, quando parei de trabalhar, parei de usar a bicicleta para esse fim. Atualmente pedalo pra ir ao supermercado, à piscina, estação de trem e passeios nas redondezas onde moramos. Quando há alguma rua com aclive e sinto que estou começando a cansar, opto em empurrar a bike morro acima até chegar de novo a uma rua plana. Quanto à postura, percebi nessas últimas semanas que tenho que ficar mais “reta” na bicicleta, mas nada muito diferente.

Não fiz nenhuma adaptação. Como minha bicicleta é um modelo feminino, ela é fácil de montar, com o quadro em “V” e com o guidão mais alto que as mountain bikes normais. Mas meu comportamento no trânsito mudou. Vou mais devagar e pedalo na calçada quando possível e quando o trafego é maior. Aqui temos o costume de usar um colete refletor e capacete quando andamos de bicicleta, principalmente nos meses mais escuros. Além disso as bicicletas são equipadas com luzes na frente e atrás.

Acredito que o uso de equipamentos adequados para ciclistas é muito importante, principalmente na gravidez. Como o uso do capacete em caso de acidentes, o uso do colete refletor para que os motoristas vejam o ciclista e o uso de luzes na bicicleta. Para as grávidas o importante é não tentar nada muito novo… Pedalar desde o começo da gravidez fez com que me acostumasse com a barriga crescendo e a “perda” do centro do corpo. Acho que não é porque eu pedalei durante a gravidez que todas deveriam fazer o mesmo. A mulher grávida deve pedalar desde que ela se sinta segura e confortável. No meu caso foi uma excelente forma de me manter ativa. Infelizmente pedalar na gravidez ainda é caracterizado por muitos medos e tabus.

Às vezes fico imaginando o que eu teria feito se tivesse passado minha gravidez em Curitiba. Acho que é diferente. A Inglaterra é reconhecida como um dos piores países da Europa para ciclistas, você sabe, poucas ciclofaixas, poucos lugares para estacionar, etc.. Por outro lado percebi que os motoristas têm muito mais respeito pelo ciclista do que no Brasil. Isso dá mais confiança quando você compartilha o transito com os carros.

No Brasil, em Curitiba, o trânsito é mais violento, logo acho que eu não me sentiria segura andando em ruas movimentadas. Espero que isso mude! Sobre pedalar na gravidez no Brasil? Acho que tudo depende das circunstâncias que você está. Existem bairros e cidades no Brasil que são tão seguras quanto na Europa, apesar da gente achar que não. Além disso, dá pra pedalar por ruas alternativas. Eu e meu marido estamos voltando pro Brasil em alguns meses, e caso eu fique grávida de novo, penso seriamente em fazer o mesmo que fiz aqui.


Obrigado por compartilhar sua história conosco Vanessa. E que o herdeiro venha cheio de saúde para encarar muitas pedaladas em família.

Estou grávida e continuo pedalando – parte I

Este é um relato da nossa amiga Vanessa que está no finalzinho da sua primeira gestação e não pára de pedalar !!


Vanessa na bici

Vanessa na bici

Comecei a pedalar quando ganhei minha primeira bicicleta aos 6 anos de idade. Desde então sempre tive bicicleta. Em 2002, quando já estava morando em Curitiba e casada, eu e meu marido fizemos uma viagem de bike até Florianópolis. Acho que foi a partir dessa viagem que nos apaixonamos mesmo por bicicleta e decidimos que sempre as teríamos como uma opção de meio de transporte. E foi isso o que aconteceu, pois na época não tínhamos carro. Quando viemos pra Inglaterra morar, em 2006, conseguimos comprar nossas bikes só em 2008. Desde então as usamos quase todos os dias; vamos ao mercado, ao trabalho e fazemos passeios pela cidade e região. No último ano tenho pedalado quase todos os dias por no mínimo 30 minutos.
 
Quando descobri que estava grávida um dos primeiros pensamentos que me veio a mente foi… “Será que vou ter que abandonar minha bike??” Conversei com alguns amigos e eles diziam que era perigoso e isso me deixou receosa. Mas como para chegar ao meu trabalho demorava em média 15 minutos pedalando, arrisquei ir mais devagar aos primeiros 3 meses, sempre cuidando com buracos e com o transito. Depois que passei pelos meses mais frágeis da gravidez pedalando com muito cuidado, percebi que não era impossível. Foi aí então que decidi continuar enquanto me sentisse segura e confortável. Parei de pedalar entre novembro e dezembro, quando o inverno chegou. Final de janeiro, quando estava com 23 semanas de gravidez comecei de novo e desde então ainda não parei. Hoje estou com 37 semanas de gestação e continuo pedalando!
 
O meu marido não vê problema nenhum sobre pedalar durante a gravidez, mas é claro, que o cuidado tem que ser redobrado. Ele sempre deu muito apoio pra eu continuar fazendo os mesmos exercícios e consequentemente, pedalar. Acho sim que isso influenciou a minha decisão em continuar pedalando até agora. Como temos o trajeto parecido pra ir ao trabalho, ele me acompanhou durante quase todos os dias nas últimas semanas, o que também me deu mais confiança em saber que tinha alguém comigo se algo acontecesse. Como o hospital fica a só 15 minutos de pedalada, ele até acha que poderíamos ir ao hospital de bicicleta pra ter o bebê…Brincadeira!
 
Quando perguntei à minha parteira sobre pedalar durante a gravidez, ela falou que poderia continuar pedalando até quando me sentisse confortável e segura na bicicleta. Ela disse:

Pode ir até o final!

Confesso que vibrei quando ela falou isso. Pensei: “Puxa, acho que não sou tão louca então!”. Ela mencionou também que quanto mais ativa eu fosse melhor para mim e para o bebê, e assim, para o parto. Mas é claro que teria que ter o bom senso de não fazer passeios longos e evitar ruas com muito aclive. Ouvir isso da parteira foi muito importante.
 
Quanto à opinião dos amigos e parentes, ela é diversificada. Alguns falam que eu não deveria continuar (na verdade agora é um pouco tarde pra falar isso), outros falam que admiram e que acham legal não parar de pedalar. Ultimamente percebi que algumas pessoas que acham que é loucura eu continuar pedalando normalmente são aquelas que não sabem andar de bicicleta ou têm pouca prática. Por isso acho que o “medo” delas por mim seja maior. Acho que meus pais têm algum receio, mas nunca falaram para eu parar. Meus sogros acham legal que ainda não parei de pedalar, mas sempre falam pra eu tomar mais cuidado.
 
Na semana que vem tem a parte final do relato…

Dá pra pedalar durante a gravidez?

Essa é a tradução de um artigo escrito por Anna Semlyen em 16 de julho de 2000 para a Bicycle Magazine.

Meu primeiro bebê deve nascer daqui a seis semanas. Alguns amigos e familiares têm perguntado nervosamente se eu ainda pedalo. Deus os abençoe – eles estão preocupados com a minha saúde. Contudo, eu sou car-free por opção e andar de bicicleta é algo tão corriqueiro para mim que não posso pensar em parar sem que haja um motivo muito forte. Então, pedalar grávida é algo responsável? Claro que sim – apesar de ser uma escolha muito pessoal!

Mudanças
A gravidez transforma seu corpo rapidamente. Como Daniel Stern disse em The Birth of a Mother (O nascimento de uma mãe), “Seus seios crescem e têm um peso diferente. Sua barriga aumenta, mudando seu centro de gravidade de maneira que você anda, para, senta e levanta da cadeira de uma forma diferente.” Felizmente é temporário.

Cansado?
A energia extra usada para criar um novo ser é extenuante. Minha dica principal é restringir ao máximo seus deslocamentos – tendo em vista que é cansativo, custoso e apenas um meio, não um fim. Transporte viabiliza o acesso ao trabalho, saúde, diversão e convívio social. Por que não fazer pedidos para entregar em casa, usar o telefone, escrever mais cartas/e-mails ou pedir/pagar alguém para resolver alguns dos seus assuntos pendentes? Localizar a alternativa mais próxima é conveniente e vai sobrar um tempinho praquelas sonecas tão necessárias! Se estiver planejando uma viagenzinha, entre a 20ª e a 27ª semana é a melhor época. Você já vai ter passado pelos enjoos, mas ainda não vai estar muito grande.

Pedalar é increvelmente eficiente energeticamente – até cinco vezes mais do que caminhar. Prepare-se para pedalar mais devagar no segundo e terceiro trimestres e ficar sem fôlego. Porém, andar de bicicleta ainda é mais rápido do que andar e com menos esforço. Swea Sayers, mãe de quatro filhos, caminhou durante sua primeira gravidez quando era uma estudante pobre sem bici. Mas pedalou nas outras três e confirma que “pedalar é muito mais fácil do que andar pra qualquer lugar”. Becky Field também descobriu que pedalar é mais confortável do que andar quando estava prestes a dar a luz.

Reclamações pré-natais comuns incluem varizes, pés e pernas inchados. Pedalar alivia o peso e ajuda a prevenir esses problemas, assim como levantar suas pernas numa cadeira ou contra a parede.

Estudos comprovam que, em média, bicis são mais rápidas que ônibus nos primeiros 10 quilômetros. Além disso, você pode carregar as coisas mais facilmente numa bici do que a pé, considerando que você use cestas, bagageiros e/ou alforges adequados . Swea afirmou que “fazer compras é particularmente bom com uma bici”.

A concentração de fumaça dos escapamentos é três vezes maior dentro dos carros do que na rua ou para os ciclistas. Se você está sem muita energia ou asmática, você irá respirar mais facilmente fora do que presa num veículo.

Mantenha-se em forma e saudável
Trabalho de parto é exatamente o que parece – trabalho extremamente pesado. Quanto mais em forma você estiver melhor. Exercícios regulares, suaves, baratos e saudáveis como pedalar aumenta sua disposição para o “empurrão final”. Talvez apenas natação e yoga sejam mais recomendados – mas você ainda tem que ir até a piscina ou a uma academia para frequentar as aulas.

Evidências em testes feitos pela palestrante Dr. Jean Rankin da Universidade de Paisley mostram que exercícios durante a gravidez são bastante positivos. Porém, não se deve iniciar um novo esporte, qualquer atividade extenuante ou que vise basicamente desenvolvimento muscular durante a gravidez. Continue a fazer exercícios que você já gosta enquanto se sentir confortável. Lembre-se também que a gravidez afeta seus processos psicológicos e seu julgamento. Por exemplo, sua concentração é menor e a memória de curto prazo é reduzida, isso pode afetar a tomada de decisão.

A Doutora Becky Field acha que “mulheres grávidas são geralmente recomendadas a pegar leve demais. Eu recomendo que as mulheres escutem o seu corpo e descubram o que elas podem ou não fazer”. A senhora Mieke Jackson, uma treinadora ciclística, foi aconselhada pelo seu médico a não correr, não praticar water-ski nem escalada. Mas pedalar durante toda a gravidez não tinha problema algum.

Pedalar aumenta o tônus e a força de suas pernas e músculos pélvicos, facilitando assumir posições de joelho ou de cócoras que podem ser necessárias. Exercitar esses músculos e articulações vão mantê-los flexíveis. Isso ajuda a abrir a cavidade pélvica – crucial para um parto mais suave e menos doloroso. Pedalar também aumenta a suficiência cardíaca e respiratória, fato importante quando o maior músculo do corpo feminino – o útero – está trabalhando pesado. Além disso, pedalar também trabalha o abdômen, deixando-o mais forte e reduzindo as chances de obesidade, incontinência urinária e pele flácida após parto.

Posição de pedalada
As duas pedras extras (mais de 20% do peso corporal no meu caso) podem causar dores nas costas e no nervo ciático quando as mulheres tentam contrabalançar. Portanto, uma posição ereta ao pedalar é ideal, semelhante ao modelo holandês de bicicletas urbanas e as dobráveis, bem melhor que curvado e apoiando no guidão.

Sara Robin do grupo York CycleWorks afirma que “Eu me virei os quatro primeiros meses curvada sobre o guidão, a partir daí eu tive que trocar por uma bicicleta leve com postura ereta. Eu recomendaria às mulheres que escolham bicicletas com selins baixos, com suspensão, confortáveis, largos e com gel.” Já existem selins próprios para mulheres – alguns com um furo no meio para reduzir o atrito em áreas sensíveis e mantê-la mais arejada.

Claramente, montar em uma bici feminina ou dobrável é mais fácil do que passar a perna por cima do quadro alto e também tem que ter espaço pro “caroço”. Talvez ajustar o banco numa posição mais baixa? Sara achou “dirigir incrivelmente desconfortável, por outro lado, de bicicleta, eu só tive problema pra subir ladeiras íngremes a partir do oitavo mês. Também me senti menos isolada na minha bici do que no carro “. Dra Becky Field diz que “minhas pernas tinham que ficar meio de lado para evitar bater na barriga enquanto eu pedalava “.

Quando (ou se) parar
A preocupação com a segurança e a sensibilidade emocional aumentam ao proteger o filho ainda no ventre. Eu passei a fazer uma rota bem mais longa para ir às minhas aulas de ioga quando parei de levantar minha bici bem no início da gravidez. Claramente, a futura mãe precisa de uma bici bem conservada e cores bem vivas e iluminadas para serem bem vistas.

Equilíbrio físico pode ser afetado na gravidez. Se for, pedalar pode não ser recomendável a não ser em caminhos livres de trânsito ou num triciclo.

Contudo, nas suas duas gestações, Sara Robin pedalou até entrar em trabalho de parto. Jane Henshaw (da revista A to B) em Castle Cary pedalou até o hospital para ter o bebê. Minha enfermeira me contou de uma senhora que quando bolsa rompeu foi de bici até o hospital. Como ela tinha esquecido algumas coisitas importantes em casa, ela pedalou uns 5 kms de volta pra buscá-las. Ela alegou que o ritmo regular das pedaladas era uma distração para as dores do parto iniciais. Swea Sayers também ainda pedalava no dia após o início do trabalho de parto. Todos seus filhos foram tardios, mas perfeitamente normais.

Pedalada pós-natal
Em quanto tempo você volta a pedalar depende de como você se sente fisicamente e se você está feliz em andar de bicicleta com um bebê. Se tiver sido um parto difícil, com episiotomia e/ou rasgos, tome muito cuidado! Sara Robin disse: “após o nascimento do meu segundo filho eu voltei a pedalar em menos de duas semanas e voltei ao meu peso normal em dois ou três meses amamentando e pedalando”.

Pedalar melhora a atenção, reduz estresse e melhora depressão, proporcionando uma sensação geral de bem-estar. Uma pedalada para lazer (talvez deixando o bebê com uma babá) oferece uma oportunidade de se sentir libertada se você está se sentido pra baixo ou aprisionada pela maternidade.

Trailer para bebê

Trailer para bebê

Claro que é natural proteger o recém-nascido. Desconfio que muito pais não pesquisam as opções de acessórios de bicicletas para bebês e evitam pedalar com o pequenino, exceto em locais sem trânsito. A enciclopédia é um bom lugar para se procurar soluções para pedaladas em família. O Bike Best ou o sling são as únicas maneiras de carregar o bebê que eu encontrei até agora que podem apoiar o pescoço frágil de um recém-nascido.

ver texto original: Expecting to cycle

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