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Serviço de entrega com bicicletas

No mês passado conhecemos o Marcelo Machado, um bikeboy que trabalha no centro de Curitiba. Ele foi apresentado na nossa coluna no Jornalismo FM. Finalmente tivemos um tempinho para conversar com mais calma com o Marcelo. Veja abaixo a matéria completa.

Patricio e Marcelo

Patricio e Marcelo

Grupo Transporte Humano: Há quanto tempo você trabalha como bikeboy?
Marcelo Machado: Estou trabalhando desde julho do ano passado.

GTH: Como é a sua rotina de trabalho?
MM: Como moro em Pinhais e são 22km pra ir e voltar, preciso acordar bem cedo para chegar no centro de Curitiba por volta das 09:00. Fico por lá até às 17:00 fazendo entregas e volto para casa. Trabalho de segunda a sexta.

GTH: Que tipo de entregas você faz? Como são os clientes?
MM: Tenho uma mochila e um bagageiro que dá para levar encomendas pequenas, como documentos em geral, pacotes pequenos e remédios. Faço também pagamento em banco para alguns clientes. Hoje em dia já tenho alguns clientes fixos que pagam por mês. Tem farmácia, consulado, agência de viagem e coisas assim. Mas continuo fazendo trabalhos avulsos também.

GTH: E como é o seu relacionamento com os clientes?
MM: É uma relação de confiança. É algo mais do que simplesmente entregar ou buscar os pedidos. Eles sabem que estou disponível e que podem contar comigo. A aparência também faz  diferença. No começo, eu usava bermuda e camiseta. Depois bolei um uniforme simples com calça e camisa de gola pólo. Assim ficou melhor para entrar em qualquer escritório sem constrangimento.

GTH: E o que eles acham de contratar um bikeboy você?
MM: Para eles não faz muito diferença qual o meio de transporte que uso. Sou contratado porque consigo entregar com rapidez e tenho um bom preço. Afinal de contas, meu gasto com manutenção é baixo. Alguns comerciantes até comentam que é uma iniciativa legal porque não polui e essa coisa toda. Mas isso não é determinante.

GTH: E como você faz para ir ao banheiro? Onde você come?
MM: Existem vários banheiros públicos disponíveis no centro. Além de shoppings e restaurantes que dá pra usar. Mas eu nunca peço pra usar o banheiro dos meus clientes. Por mais que seja uma relação amigável, é preciso reconhecer os limites. Faço alguns lanches pelo centro e costumo almoçar no SESC.

GTH: E qual a sua maior dificuldade?
MM: Tem dia que o vento contra atrapalha bastante e fico bem mais cansado. Mas o meu pesadelo mesmo é porta de carro.

GTH: Já deixou de fazer alguma entrega?
MM: NUNCA. Todos os serviços que recebi foram executados.

GTH: E assalto, roubo?
MM: Já até vi assalto na rua, mas comigo mesmo nunca aconteceu nada. Minha bicicleta é simples e não chama atenção. Ela fica parada na rua e uso duas correntes sempre.

GTH: E quando chove?
MM: Tem que dar um jeito. Espero um pouco a chuva passar ou coloco em sacos plásticos e saio na chuva mesmo.

GTH: Você lembra de algum episódio curioso?
MM: Hmmm… Lembro de dois. Uma vez me ligaram para pedir para levar uma mesa de 6 lugares da Praça Osório até a Praça Zacarias e eu tive que explicar que não poderia fazer esse tipo de serviço. Outra vez pediram para eu entregar um documento em Almirante Tamandaré.

GTH: E você não faz entregas distantes ?
MM: A bicicleta não foi feita para percorrer distâncias tão grandes. Além disso eu perderia muito tempo e o valor teria que ser bem mais alto do que as entregas comuns. Por isso eu faço entregas apenas pela região central num raio menor que 10km. Além disso, por aqui que tem muito congestionamento, assim eu ajudo a desafogar o trânsito um pouco.

GTH: E quanto custa uma entrega normal?
MM: R$5,00

GTH: Falando nisso, qual a sua renda mensal? Se não for uma pergunta muito indiscreta.
MM: Sem problemas. Meu lucro mensal gira em torno de R$1.500,00

GTH: O que você fazia antes de virar bikeboy?
MM: Trabalhei mais de 20 de anos na área de vendas de uma empresa até que fui demitido.

GTH: E como seus amigos e sua família encararam a idéia?
MM: A grande maioria achava que não ia dar em nada. Eu até evitava contar pros meus amigos para não ter que ouvir a tiração de sarro.

GTH: Fale um pouco sobre você? Quantos anos você tem? Sempre morou em Curitiba?
MM: Tenho 38 anos. Sou casado e tenho duas filhas. Minha esposa trabalha no INSS.Nasci em Torres no Rio Grande do Sul mas mudei para Curitiba quando tinha 5 anos. Morei um tempo em São Paulo também.

GTH: Você conhece a legislação para bicicletas?
MM: Sim conheço e tento respeitar. Mas a bicicleta é bem diferente do carro e deveria ser tratada diferente também. O forte deveria sempre proteger o mais fraco.

GTH: O que você acha da infraestrutura cicloviária de Curitiba?
MM: Acho péssima. Quando você está na rua de bicicleta ninguém enxerga você. Apesar de ter umas ciclovias para embelezar, a política é totalmente pró-carro. Por exemplo, esse estacionamento que tiraram na Visconde de Guarapuava. Fizeram isso para aumentar o fluxo de carros em vez de espaço para ciclistas ou pedestres.

GTH:Só uma última pergunta. Como as pessoas podem contratá-lo?
MM: É só me ligar. Meu telefone é 8432-0689.

4 Respostas

  1. Marcelo é um exemplo.

    Em cidades de primeiro mundo, como Londres por exemplo, o correio e outros serviços de entrega rápida, organizados por empresas, utilizam as “bikes” na ponta do mesmo, ou seja: justamnete na entrega ao destinatário…

    Fico contente de ver que o Marcelo tem uma renda digna, que está contente e que tem uma visao crítica sobre a mobilidade urbana da cidade.

  2. Ótima entrevista!
    O Marcelo é a prova que bicicleta não é brinquedo, é meio de transporte, é ferramenta de trabalho, é eficiente na sua proposta e uma opção de renda.

    Não vejo motivo para que a bicicleta não venha a se popularizar no serviço de entregas rápidas nas regiões centrais. É rápida, prática, custa pouco e demanda baixíssima manunteção. Sem contar que não polui com fumaça nem ruído.

  3. Opa, eu já contratei os serviços do Marcelo e foi ótimo, deu tudo certo e os documentos foram e voltaram no prazo. É uma excelente alternativa que na real deveria virar padrão, né? Vide o que o Roberto comentou acima. Valeu pela coragem, Marcelo, gratidão pelo teu exemplo! 😀

  4. Duas coisas que me chamaram muito a atenção na entrevista:

    1. Os clientes preferem os serviços do Marcelo porque a bicicleta é rápida e funcional, não por questões ambientais principalmente. Isto é mais uma prova de que a bicicleta, como o Paulo afirmou, é uma alternativa pra lá de viável.

    2. Não sei quanto ganha um motoboy, mas salário do bikeboy deve estar compatível ou até maior.

    Menos motos. Mais bicicletas. Por que não?

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