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Por ano, brasileiro passa um mês inteiro no carro

Período em que a pessoa fica no veículo pode ser usado para outras atividades, como o estudo de línguas estrangeiras.

O brasileiro gasta, em média, um mês por ano no trânsito. Está é a conclusão a que se chega com base nos dados apresentados por um relatório elaborado pelo Citigroup intitulado Off the Beaten Path, algo como Longe do Caminho Batido, em português. O estudo mostra que o brasileiro passa 2 horas e 36 minutos por dia no trânsito. Se este valor for multiplicado por 20 dias úteis e por doze meses, o resultado é 26 dias por ano dentro do carro. Se o mesmo número for multiplicado por 30 dias e por doze meses, tem-se nada menos do que 39 dias. Em países desenvolvidos, a média diária despendida no trânsito é de uma hora.

Tempo de vida gasto no carro

Tempo de vida gasto no carro

Os motivos para um trânsito caótico no país, segundo o estudo, são vários: o contingente de carros e motocicletas não pára de crescer, o investimento em transporte público está longe de ser suficiente, a população urbana continua a aumentar, o número de pessoas por casa diminui e a migração dos moradores para áreas suburbanas aumenta a distância entre o lar e o trabalho. Junto a tudo isso, uma atitude de indiferença dos governos só faz com que o problema se torne ainda mais crônico, a ponto de afetar a economia. O estudo mostra que, no Brasil, o congestionamento de automóveis reduz a produtividade do trabalhador em 5%, o equivalente a US$ 919,5.

O problema, que já afeta 20,5% da população, não é exclusivo do Brasil, mas comum à América Latina. São Paulo é a segunda cidade “mais devagar” entre as pesquisadas, com uma velocidade média no trânsito de 24 quilômetros por hora. Cidade do México é a que tem a pior média: 22,5 quilômetros por hora.

Dentro do país
Embora o estudo faça um raio X de como o trânsito ruim afeta a economia de países latino-americanos de uma forma geral, não faz uma análise das diferenças existentes dentro de um mesmo país. Os dados brasileiros citados no estudo, por exemplo, são principalmente relacionados a São Paulo. Para a coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iara Thielen, apesar de alguns horários em que o trânsito de Curitiba fica “difícil”, a capital paranaense ainda tem alguns anos de fôlego. “São Paulo não é a média do trânsito do país”, adverte.

Contudo, segundo Iara, Curitiba caminha na direção do modelo de São Paulo. Um indício de que a afirmação de Iara está correta é que o estudo do Citigroup mostrou que a velocidade média no trânsito de São Paulo é de 24 quilômetros por hora. A última medição feita pela Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), em 2006, em uma das vias mais problemáticas da capital, a Avenida Visconde de Guarapuava, mostrou que a velocidade média, num trecho de 2,8 quilômetros, foi de 24,44 quilômetros por hora – valor semelhante ao de São Paulo. A Gazeta do Povo fez o mesmo percurso, na sexta-feira passada, no mesmo horário, em 10 minutos e 21 segundos, numa velocidade média de 16 quilômetros por hora.

Claro que esta não é a média para toda a cidade, mas o resultado mostra que algumas vias de Curitiba têm o trânsito comparável ao de São Paulo. No último Desafio Intermodal promovido pela Bicicletada Curitiba e pelo Programa Ciclovida da UFPR, no dia 29 de maio, por exemplo, o percurso de 7 quilômetros foi percorrido pelo automóvel, em horário de pico, em uma velocidade média de 12,96 quilômetros por hora, em Curitiba.

“É um tempo que a pessoa acaba perdendo. Embora ela não esteja fazendo nada, se não encontra uma atividade, acaba tendo desgaste emocional, uma sensação de tempo perdido”, explica Iara. O resultado disso, segundo a psicóloga, é stress e agressividade. “Acaba descontando no próximo ou na buzina.”

Para não ser engolido por este turbilhão de emoções negativas, a dica é tentar tornar útil o tempo gasto no trânsito. “Este tempo perdido no trânsito é aquele mesmo que a pessoa usa como desculpa para não fazer exercício físico. Dá para utilizar este tempo para exercitar braços, cabeça”, sugere Iara. Para o especialista em gerenciamento de tempo e produtividade pessoal e empresarial, Christian Barbosa, o período que se passa no trânsito pode ser bem aproveitado. “Dá para ouvir um CD de línguas estrangeiras e aproveitar o tempo para praticar. Outra idéia é instalar um bluetooth no som do carro e fazer ligações ou pensar em projetos e registrar em um gravador de voz”, diz.

Outra possibilidade é negociar com a empresa horários alternativos para a entrada e saída do trabalho. “As empresas têm de entender que o trânsito é um problema e têm de ter um programa para ajudar, com flexibilidade no horário. Chegando mais tarde e saindo mais tarde, o dia-a-dia flui melhor”, opina Barbosa.

Para o especialista no gerenciamento do tempo, só se sente mal quem não faz um planejamento correto. “As pessoas reclamam quando estão correndo, mas reclamam também quando estão paradas. Tem de usar o tempo no trânsito de forma produtiva, a seu favor”, diz. Tudo tem limite, claro. “Só não dá para fazer atividades que distraiam com risco de perder o bonde”, adverte Iara.

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Extensão da casa e do escritório
A representante comercial Lyan Regina Ferreira do Amaral, 54 anos, passa nada menos do que cinco horas por dia dentro do seu carro. Como trabalha de segunda a sexta-feira, é como se Lyan passasse 50 dias por ano no trânsito. A bancária Luciana de Melo Lucas, 31 anos, não passa tanto tempo no carro, mas sofre os efeitos do trânsito também. “É um tempo perdido”, opina.

Luciana leva, normalmente, 50 minutos para percorrer o caminho entre o Boa Vista, onde mora, e a Cidade Industrial, onde trabalha. O caminho de volta é mais rápido – 20 minutos. Para isso, Luciana espera passar o horário de pico para voltar para casa, programando seu retorno para as 22 horas. “Prefiro ficar mais tempo no trabalho a pegar trânsito. Uma vez sai às 17 horas e cheguei em casa às 20h30”, conta.

“Especialista no assunto por ocasião”, Lyan diz que o trânsito de Curitiba se deteriorou de quatro a cinco anos para cá. Tanto que, antigamente, ela conseguia atender de 15 a 20 clientes por dia. Além disso, antes, Lyan saia às 7 horas de casa e retornava, por volta, das 18h30. Para fugir do trânsito congestionado, passou a sair 6h30 de casa. Mesmo assim, em alguns dias, volta só às 20 horas. O trânsito ruim chegou, inclusive, a influenciar nos seus rendimentos. “Hoje eu ganho 20% a menos por causa do trânsito”, afirma.

Como tempo é dinheiro para Lyan, ela sai de casa se arrumando. “Eu penteio o cabelo no carro, ponho brinco, faço a maquiagem”, conta. No caminho, sintoniza nas rádios que transmitem notícias e dão informações sobre o trânsito.

Com tanto tempo passado no trânsito, Lyan transformou seu carro em escritório e em uma extensão de sua casa.“Eu coloquei uma mini-geladeira para carregar água e chá. Tenho no carro também frutas, barras de cereais, roupas no porta-mala, dois celulares, minha agenda eletrônica, agenda de papel, bloco de notas, meu arquivo de clientes e, claro, a mercadoria”, conta. Com o carro adaptado, só há problema mesmo quando Lyan precisa ir ao banheiro. “Ainda não inventaram um jeito de adaptar o banheiro no carro”, brinca. (TC)
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Publicado originalmente na Gazeta do Povo em 29/06/2008 por Themys Cabral

Uma resposta

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